Estamos na Semana Nacional da Família e, aos pés do Cristo Redentor, as famílias que perderam entes queridos foram lembradas em celebração realizada no último domingo (9). "É um momento diferente e doloroso porque cada pessoa, cada vida, é importante. Não são só estatísticas, cada pessoa tem um nome, uma história, com seus relacionamentos”, disse o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, na missa que presidiu no Dia dos Pais, direto do Santuário Cristo Redentor, no Corcovado, na intenção dasvítimas da Covid-19 e de seus familiares.
Carlos Moioli - Arquidiocese do Rio de Janeiro
“Uma tempestade invadiu o nosso barco, o mar da nossa vida, o mundo inteiro. Nesta celebração peçamos a Deus, já que estamos iniciando a Semana Nacional da Família, pelas famílias que sofrem com a perda de seus entes queridos. É um momento diferente, doloroso, porque cada pessoa, cada vida é importante. Não são só estatísticas, cada pessoa tem um nome, uma história, com seus relacionamentos”, disse o arcebispo do Rio, cardeal Orani João Tempesta, na missa que presidiu no Dia dos Pais, 9 de agosto, no Santuário Cristo Redentor, no Corcovado, na intenção das vítimas da Covid-19 e de seus familiares.
“Existe a dor pela ausência, mas sabemos que pela fé todos que partiram estão na eternidade, junto de Deus. Precisamos ter certeza na esperança que renasce, a confiança que o Senhor está entre nós. Pelo mistério da encarnação, o filho de Deus veio morar no meio de nós, caminhar conosco na história, pisar o nosso chão. Não podemos perder de vista a direção última da nossa vida”, acrescentou o arcebispo, lembrando que a pandemia já alcançou a marca de três milhões de pessoas contaminadas, com setecentas mil mortes no mundo, sendo mais de cem mil só no Brasil.
Para cada vida
A celebração, sob o tema “Para cada vida” foi promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Caritas Brasileira e Arquidiocese do Rio, com o apoio das Nações Unidas, por meio da iniciativa global “Verificada” no combate ao crescente flagelo de desinformação sobre a Covid-19 e para aumentar o volume e alcance de informação precisa e confiável.
Na homilia, Dom Orani refletiu o Evangelho, cujo episódio apresenta Jesus caminhando sobre as águas, indo ao encontro dos discípulos, na barca que era agitada pelas ondas, e Pedro que pede para ir ao encontro do Senhor, mas a pouca fé o faz afundar.
“Uma grande tempestade se abate sobre a humanidade. Diante de ventos contrários que fazem muitas famílias sofrerem com a situação da pandemia, a Palavra de Deus nos diz que é preciso ter confiança e esperança. Nesta celebração vamos colocar cada pessoa que partiu nas mãos do Senhor, junto com o sofrimento de seus familiares. Os ventos são contrários, mas temos a certeza que o Senhor vem ao nosso encontro. 'Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!’, diz Jesus. Temos que ter a coragem de Pedro, de ir ao encontro do Senhor, mas sem duvidar, porque Jesus é, verdadeiramente, o filho de Deus”, disse o arcebispo.
No final, o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, que organizou a celebração, destacou os aspectos importantes do monumento do Cristo Redentor, finalizando com a música “Luz divina”, de Roberto Carlos.
O Cristo Redentor, espaço sagrado e de fé
“O monumento do Cristo Redentor encontra-se num cenário privilegiado da cidade do Rio, e tem se caracterizado como um espaço sagrado, de fé, que ao longo da pandemia tem permanecido aberto, não aos turistas, mas para a prática do amor, da solidariedade, recebendo inúmeras campanhas com iluminações especiais, integrando cada vez mais a perspectiva do amor, do bem da solidariedade”, disse o reitor.
Transmitida pela Rede Globo de Televisão e demais mídias do Setor de Comunicação da Arquidiocese do Rio, a celebração, que não teve a participação de fiéis, foi concluída com o lançamento de um vídeo com um poema de autoria do poeta e teólogo português Cardeal José Tolentino Mendonça, bibliotecário e arquivista da Santa Sé, lido e interpretado pelo ator Tony Ramos:
“Senhor, livra-nos, Senhor, deste vírus,
mas também de todos os outros que se escondem dentro dele.
Livra-nos do vírus do pânico disseminado,
sim, porque em vez de construir sabedoria,
ele nos atira, desamparados, para o labirinto da angústia.
Livra-nos do vírus do desânimo
que nos retira a fortaleza de alma
com que melhor se enfrentam as horas difíceis.
Livra-nos, Senhor,
por favor, livra-nos do vírus do pessimismo,
pois não nos deixa ver que,
se nós não pudermos abrir a porta,
nós temos ainda possibilidade de abrir janelas.
Livra-nos do vírus do isolamento interior que desagrega,
pois o mundo continua a ser uma comunidade viva, Senhor.
Livra-nos do vírus do individualismo que faz crescer as muralhas,
mas explode em nosso redor todas as pontes.
Livra-nos,
ó Senhor, livra-nos do vírus da comunicação vazia que vem em doses massivas,
pois essa comunicação vazia se sobrepõe à verdade das palavras
que nos chegam do silêncio, do silêncio.
Livra-nos,
livra-nos, Senhor, do vírus da impotência,
pois uma das coisas mais urgentes a aprender,
ó meu Senhor,
nós temos que aprender urgentemente
o poder da nossa vulnerabilidade.
Livra-nos, Senhor,
por favor, livra-nos do vírus das noites sem fim,
pois Tu não deixas de recordar que Tu mesmo ,
ó Senhor, nosso Deus,
Tu mesmo nos colocaste como sentinelas da aurora”.