quinta-feira, 14 de junho de 2018

Escolas do campo precisam resistir ao modelo capitalista de ensino


FOTO: Rafael Nascimento
A estratégia do capital sobre a educação no campo foi amplamente debatida no segundo dia do Encontro Nacional de 20 anos da Educação do Campo e Pronera. Palestrantes e plenária fizeram diagnósticos do que ocorre sistematicamente em suas regiões e buscaram encontrar soluções para recuperar o espaço democrático usurpado pela elite política, jurídica e midiática brasileiras.
Foi consenso entre os debatedores que a grande estratégia de mudança está no poder do voto. “Nós já conhecemos a tática da direita, do agronegócio, dos conglomerados econômicos. A nossa deve ser as eleições. Vamos eleger pessoas que tenham compromisso com a pedagogia que valoriza o conhecimento do homem e da mulher do campo, das águas e das florestas. Vamos lutar contra a forma de ensino capitalista, a que é violenta. Agro é tóxico”, afirma Gaudêncio Frigotto, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e um dos palestrantes.
 
Formação sindical
 
 Participantes da plenária também expuseram suas opiniões sobre quais alternativas tomar para fortalecer o ideal da agricultura familiar nas escolas campesinas. Antônio Pinheiro, presidente do STTR de Tianguá, no Ceará, disse que é preciso que haja uma maior discussão sobre o modelo educacional vigente em algumas escolas rurais. “Temos que levar para as nossas comunidades tudo o que foi dito aqui. É nossa responsabilidade mobilizar nossa gente na base e mostrar que há alternativas condizentes com a nossa proposta”, acredita o dirigente. 
 
 
A Secretária de Juventude da CUT Nacional, Cristiana Paiva, alertou para a reflexão sobre a formação sindical. “Precisamos formar para mobilizar, e mobilizando temos mais chances de vencer nossas lutas, que são muitas e importantes para a manutenção da nossa gente no campo”, discursou.
 
 
Oscar dos Santos, coordenador de educação do campo da Secretaria municipal de Pão de Açúcar, em Alagoas, concordou com as soluções apresentadas e acrescentou que a formação sindical nos ambientes de aprendizados seria importante para reforçar o sentimento de pertencimento dos jovens rurais. A secretária de Políticas Sociais e Terceira Idade da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadores Rurais do Estado do Pará (Fetagri-PA), Maria Rosa de Almeida, concordou com os colegas e acrescentou que o conhecimento é a chave para a mudança.
 
 
Escola do campo como lugar de pensamento crítico
 
Os representantes da Articulação Paranaense por uma Educação do Campo apresentaram alguns informes preocupantes. “É brutal o avanço do capital nas escolas do campo. Existe no Paraná uma cartilha escolar chamada Agrinho que se apodera de expressões usadas por nós para poder influenciar professores e alunos, com o intuito de maquiar a perversidade característica do agronegócio”, revela Ricardo Callegari, assessor da entidade sediada em Curitiba.
 
 
Embora seja reconhecido o progresso do agronegócio e de forças capitalistas nas escolas do campo, Ricardo Callegari mantém atitude positiva diante do atual cenário. De acordo com ele, as análises devem ser pessimistas, mas as ações sempre otimistas. “Temos feito atividades nas nossas escolas importantes para mudar essa lógica do capital. Uma delas foi criar a Festa das Sementes, em que os camponeses distribuem suas sementes na comunidade para preservá-las e impedir a fixação de monoculturas”, aponta o assessor.
 
Um ponto relevante para encorpar a educação do campo é a priorização do ensino e aprendizado da agroecologia. “Uma escola do campo que não questiona o modelo do agronegócio tende a fracassar”, diz Ricardo Callegari. 
 
FONTE: Rafael Nascimento para Comunicação da CONTAG

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