sexta-feira, 23 de julho de 2021

ENTREVISTA: Dr. Reginaldo Freitas Júnior, médico obstetra e diretor-geral do ISD, diz que vacinar grávidas contra a Covid-19 é essencial

 O número de grávidas e puérperas mortas pela Covid-19 no RN praticamente triplicou nos primeiros sete meses deste ano em relação a todo o ano de 2020. Como explicar esse aumento? A doença recrudesceu?

Não é possível identificar uma explicação única para esse cenário tão desolador, mas é inegável que a maior exposição das nossas gestantes e puérperas é um reflexo do comportamento da nossa sociedade frente às medidas de prevenção da contaminação, e que esses óbitos não significam somente questões especificamente inerentes ao comportamento da doença na gravidez, mas, sobretudo, a fragilidade de uma rede de cuidados com a saúde materna que ainda não é capaz de garantir o direito à maternidade segura.

É possível traçar um perfil dessas mulheres? São jovens, com comorbidades?

No Brasil, historicamente, a mortalidade materna é muito maior entre as mulheres negras, de menor renda e menor escolaridade. E as principais causas são hipertensão arterial na gravidez, hemorragia pós-parto e infecções. Entretanto, a Covid-19 tem impactado esse cenário de muitas formas, inclusive no perfil epidemiológico das mulheres que morrem. O impacto pode ser identificado em diversas faixas etárias, classes sociais, e entre mulheres com e sem comorbidades.

O que é possível fazer para reduzir a mortalidade de grávidas e puérperas por covid? O que preconiza a OPAS/OMS nesse sentido?

O ponto crucial é repensar a organização da rede de cuidados, num esforço conjunto de todos os níveis da gestão do SUS no sentido de fortalecê-la. Planejamento reprodutivo e pré-natal, sem dúvidas, são peças chave nesse enfrentamento. A suspensão desses serviços durante a pandemia contribuiu muito para a tragédia que estamos testemunhando agora. Qualificar a atenção hospitalar é outro aspecto vital para garantir que essas mulheres tenham acesso aos melhores cuidados possíveis. No Brasil, há um dado que muito nos preocupa: uma a cada cinco gestantes e puérperas mortas pela Covid-19 não teve acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e 33% não foram intubadas. Isso, claramente, significa não ter tido acesso aos cuidados necessários para a chance de cura. Por fim, vacinar esse grupo de mulheres é, sem sombra de dúvidas, essencial.

Em relação às vacinas contra a Covid-19, elas podem ser aplicadas nas grávidas e puérperas sem nenhum risco?

No momento, esse aumento expressivo da mortalidade materna por Covid-19 no Brasil não nos permite questionar a vacinação de gestantes e puérperas. Todas, com e sem comorbidades, devem ser vacinadas, respeitando as melhores evidências científicas disponíveis e essa informação precisa ser divulgada para que a adesão da população aconteça. Também considero importante que não sejam exigidos relatórios, prescrições ou atestados, além daqueles que obviamente comprovam a gravidez e o puerpério, como estratégia para alcançarmos o maior número possível de mulheres vacinadas.

Algumas grávidas que morreram por covid-19 no Estado:

Ana Karine, 36 anos (óbito em fevereiro de 2021);

Amanda Gabriela Lima, 30 anos (óbito em março de 2021);

Flávia Roberta do Nascimento Negreiros, 33 anos (óbito em maio de 2021);

Maria Aparecida Camilo de Souza, 39 anos (óbito em junho de 2021).

SOBRE O ISD

O Instituto Santos Dumont é uma Organização Social sem fins lucrativos vinculada ao Ministério da Educação. É referência em ensino, pesquisa e extensão em saúde materno-infantil, da pessoa com deficiência, em neurociências e neuroengenharia. O Instituto opera por meio de duas unidades localizadas em Macaíba (RN): O Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita) e o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS).

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