O Semiárido não pode pagar pela crise! 
 
NAIDISON QUINTELLA
COORDENADOR EXECUTIVO DA ASA
20 mil agricultores e agricultoras, indígenas, quilombolas e militantes 
de movimentos sociais de 10 estados reivindicam continuidade das 
políticas públicas de convivência com o Semiárido.
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Por Monyse Ravenna - Asacom
Naidison Quintella, coordenador executivo da ASA.
“Nós viemos aqui para dizer ao País e ao governo que o Semiárido existe e
 que nós temos direitos. Criamos a política de convivência com o 
Semiárido e mudamos a cara da região. Estamos aqui porque não aceitamos 
que se corte conquistas sociais. Que se corte dos bancos, do 
agronegócio, dos ricos, mas não tire do Semiárido”, destacou Naidison 
Quintella, coordenador executivo da Articulação Semiárido Brasileiro 
(ASA) pelo estado da Bahia, no ato público “Semiárido Vivo – Nenhum 
direito a menos! ”, realizado ontem, dia 17, nas cidades de Petrolina 
(PE) e Juazeiro (BA). A manifestação foi organizada por um conjunto de 
movimentos e organizações sociais entre eles a ASA, o Movimento dos 
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos 
Agricultores (MPA), Levante Popular da Juventude (LPJ) e Confederação 
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Uma das principais reivindicações dos cerca de 20 mil agricultores e 
agricultoras, indígenas, quilombolas e militantes de movimentos sociais 
de 10 estados presentes era a garantia da continuidade e ampliação das 
políticas públicas de convivência com o Semiárido conquistadas nos 
últimos 12 anos e que agora estão ameaçadas por conta das crises 
econômica e política. Na pauta estava a retomada do Programa de 
Aquisição de Alimentos (PAA), que sofreu cortes de 65% do orçamento 
previsto para 2015, e também da Água para todos, onde também houve uma 
severa diminuição na alocação dos recursos.
O número de tecnologias de captação de água de chuva implementadas em 
2015 é o menor 12 anos. A paralisação dessas políticas ameaçam os 
direitos dos povos do Semiárido, entre eles o direito à segurança 
alimentar. Em alguns lugares da região  semiárida, 2015 já é o quinto 
ano de seca, a diminuição do ritmo de implantação das políticas de 
convivência com o Semiárido imposto pelo ajuste fiscal pode ter um 
grande impacto nessa realidade.
“Conquistamos essas políticas e esses direitos depois de muita luta e 
não vamos abrir mão deles. Os agricultores e as agricultoras não vão 
pagar pela crise. Nós não construímos essa crise e não vamos pagar por 
ela”, afirma Yure Paiva, coordenador executivo da ASA pelo estado do Rio
 grande do Norte.  Além da retomada e intensificação das ações de 
convivência com o Semiárido, a mobilização também exigiu a imediata 
revitalização do Rio São Francisco, o assentamento imediato de todas as 
famílias acampadas na região, a suspensão da PEC 215 – que transfere do 
executivo para o Legislativo a demarcação de terras indígenas -, cortes 
nos programas sociais como Bolsa Família e Bolsa Estiagem. Essas pautas 
já haviam sido apresentadas a sociedade no documento Semiárido Vivo, 
lançado na última Conferência Nacional de Segurança Alimentar que 
aconteceu 3 a 6 de novembro em Brasília.
“Queremos frisar a importância de as organizações estarem unidas nesse 
momento, essa é sem dúvida, uma grande marcha que apresenta pautas 
concretas para o governo. É preciso estarmos na rua para manter os 
direitos já conquistados”, afirmou Doriel Barros, presidente da 
Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (Fetape), também 
presente no ato.  Jaime Amorim, do MST, destacou a unidade entre as 
organizações e movimentos do campo nesse momento, “Não é fácil fazer o 
que estamos fazendo aqui, mobilizar tanta gente em projeto só. Nossas 
bandeiras estão unificadas e estamos aqui dizendo ao governo que os 
trabalhadores tem um projeto para o Semiárido. Que não vamos admitir os 
cortes na aposentadoria rural, no Bolsa Família e o fechamento das 
escolas do campo”. Quem também reforça esses aspectos é Elisangela 
Araújo da coordenação da Federação Nacional dos Trabalhadores e 
Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), “Para nós da Fetraf esse
 momento é fundamental. Todas as políticas que conquistamos foi na luta e
 agora estamos nas ruas pra defender as conquistas”, pontuou.
Maria Braga é agricultora ribeirinha e veio do município de Paulo Afonso
 na Bahia e conta que veio defender o que já conquistou como as 
cisternas e o Bolsa Família, mas também para defender o Rio São 
Francisco, “vemos todo dia o Rio sangrar por conta da irrigação, isso 
não pode continuar”, afirma. Segundo a Agência Nacional das Águas 76% 
das águas do São Francisco são usadas para irrigação. Naidison Quintella
 pontua, afirma também se referindo ao São Francisco, “O Rio está 
morrendo porque seus afluentes estão morrendo. A convivência com o 
Semiárido não pode existir com o São Francisco morrendo”.
Solidariedade a Minas Gerais – Os participantes do ato público 
demonstraram inúmeros gestos de solidariedade ao povo mineiro atingido 
pelo rompimento das barragens de Santarém e Fundão, no município de 
Mariana, em Minas Gerais. O acidente, ocorrido no dia 5 de novembro, já 
comprometeu o abastecimento de água em 17 municípios, atingindo cerca de
 800 mil pessoas, em decorrência da ação da mineradora Samarco 
controlada pelas multinacionais Vale e BHP Biliton. Acidentes e impactos
 da mineração acontecem de forma recorrente e quase não há 
responsabilização. “A tragédia de Minas é uma situação causada pelas 
mineradoras. Nós reivindicamos juntos que essas empresas sejam punidas”,
 disse Naidison Quintella, no ato público.
A mineração também está avançando sobre o Semiárido, o que traz o temor 
que desastres como esse aconteçam na região, além dos impactos 
cotidianos aos povos, comunidades e territórios onde estão localizadas. 
Entre esses impactos estão a remoção forçada de famílias, contaminação 
de rios e solo, desmatamento de áreas da Caatinga e os constantes 
acidentes de trabalho.
“O impacto do que aconteceu em Mariana não tem precedentes, ainda não se
 consegue calcular a extensão da tragédia para o meio ambiente e para a 
vida das pessoas. O desastre reflete um modelo de desenvolvimento onde o
 que importa é o lucro das empresas. Esse já é considerado o maior 
desastre ambiental do País e pouca coisa está sendo feita pelo governo. O
 povo está se mobilizando, mas a Samarco ainda não foi 
responsabilizada”, finaliza Valquíria Lima, coordenadora executiva da 
ASA pelo estado de Minas Gerais.
fonte do blog da ASA BRASIL
 
 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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