Entrou na pauta da Câmara dos
Deputados a nova versão do projeto de reforma trabalhista, agora a
partir do relatório apresentado pelo deputado Rogério Marinho, relator
da Comissão Especial que analisa a proposta. Como ocorre na fantasia, na
dura realidade do país, a formiga (o projeto de reforma encaminhado
pelo Executivo) se transformou em elefante (a proposta apresentada pelo
deputado). E o conteúdo do projeto modificado permite afirmar que se
trata de um elefante atômico, uma verdadeira bomba acionada para
destruir e reconfigurar o sistema de relações de trabalho e o direito
trabalhista.
A justificativa que consta na
apresentação do projeto indica um conjunto de fundamentos com os quais
há, sim, acordo: a valorização da negociação, o fortalecimento sindical,
a busca de solução ágil de conflitos, a segurança jurídica. Porém, o
detalhamento da propositura no documento revela de maneira cristalina o
verdadeiro sentido do projeto de reforma: criar um poderoso sistema de
proteção trabalhista das empresas, que proporcione e acentue o
desequilíbrio de força a favor do capital, transferindo para o
trabalhador, individualmente, a solução dos conflitos entre capital e
trabalho e afastando os sindicatos dessa relação.
O projeto altera mais de 100 artigos da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e outros 200 dispositivos!
Amplia a liberdade de negociação para fixar parâmetros muito inferiores
aos delimitados hoje na legislação. Os sindicatos, os representantes no
local de trabalho e o próprio trabalhador estão autorizados a reduzir
direitos. As negociações coletivas resultarão em acordos com, no máximo,
dois anos de validade, e fica proibida a ultratividade. Os sindicatos
celebram acordos com validade para todos os trabalhadores da base, sem
que estes tenham nenhuma responsabilidade pelo financiamento dessa ação.
As entidades perderão a capacidade de financiamento e, pior, o
trabalhador que quiser contribuir com elas deverá comunicar a empresa – o
que é um acinte à liberdade sindical. E tem mais: os trabalhadores
deverão eleger comissões por empresas, nas quais fica proibida a
participação sindical! Essas comissões terão poder de negociação e de
quitação de débitos trabalhistas, que também podem ser saldados pelo
próprio trabalhador, ao longo do ano. Criam-se as bases para o
sindicalismo por empresa, sonho neoliberal no século XXI.
Inúmeras práticas de precarização das
condições de trabalho e flexibilização das formas de contratação serão
legalizadas. No limite, o trabalhador ganhará por hora trabalhada e
ponto – trabalho intermitente, jornada parcial, teletrabalho, home
office etc.
A Justiça do Trabalho será
estruturalmente alterada, com a atuação restrita, e haverá inúmeros
instrumentos para cercear o acesso dos trabalhadores a ela. O objetivo é
limitar o ônus das empresas.
O projeto mira a redução estrutural do
custo do trabalho, a garantia de que não haverá pressão distributiva,
mas segurança jurídica e validade de acordos privados, entre empresas e
indivíduos ou com sindicatos fracos. Trata-se de uma proposta ousada,
porque escancara uma intenção de recolocar as “coisas no seu devido
lugar”. Como a bomba que Donald Trump lançou no Afeganistão, essa
reforma tem efeitos destrutivos estruturais e de longo prazo, inúmeras
vezes mais drásticos e perniciosos do que a da Previdência.
Tempos difíceis, de muita luta e
mobilização para construir capacidade de resistir e/ou produzir o
inédito. O futuro está para ser construído. É preciso ir à luta!
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FONTE: Clemente Ganz Lúcio - Diretor técnico do DIEESE | |||
quarta-feira, 26 de abril de 2017
Reforma trabalhista: a bomba mãe
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