Hoje, 25 de maio, é comemorado o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural: é o dia de reconhecer e agradecer a todas as mais de quatro milhões de famílias de agricultores(as) responsáveis pelo abastecimento de 70% dos alimentos consumidos pelos(as) brasileiros(as), de acordo com dados do Censo Agropecuário de 2006. Café, leite, arroz, feijão, mandioca, hortaliças, frutas, galinhas, porcos, ovinos, bovinos, caprinos, doces, queijos, biscoitos, compotas e muito mais: cultura, sabedoria, história, tradições. Quem vive no campo, floresta e águas do Brasil é fonte de riqueza e orgulho para todos nós.
Para garantir que esses mais de 16 milhões de pessoas tenham condições dignas para viver e produzir, o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais luta diariamente por criação e execução de políticas públicas no campo. Reforma agrária, educação, saúde, assistência técnica e extensão rural, meios de comercialização, regulamentação e certificação de agroindústrias familiares, incentivo à preservação ambiental, políticas públicas para mulheres e jovens – tudo isso ainda precisa melhorar, e muito, para que o(a) trabalhador(a) rural brasileiro(a) possa permanecer no campo e garantir a soberania e segurança alimentar de nosso País.
Quando você come um delicioso bolo, já parou para pensar de onde vêm o leite, os ovos, a farinha e o açúcar? Ou quando come o bom e velho prato de arroz, feijão, alface, tomate e um pedaço de bife, já imaginou todo o trabalho necessário para que tudo isso estivesse em sua mesa? Foram meses de labuta para semear, cuidar, colher, embalar e vender. Tudo isso sob o sol e sob a chuva, sem descanso aos domingos ou feriados. “Se o campo não planta, a cidade não janta!” é o que o povo da roça sabe, mas, na cidade, ninguém parece lembrar.
Rotina dura, mas gratificante
O agricultor Marco Antônio Augusto, 29 anos, tem uma propriedade de 3,7 hectares no município de Castelo, a 150 quilômetros de Vitória (ES). Para comercializar, ele planta café, e para consumo próprio também encontra um espacinho para milho, verduras e algumas hortaliças. “Eu gosto muito de agricultura, de plantar, de colher, de ver as plantas bonitas. Gosto de aprender novas técnicas de cultivo e de ver que elas dão certo e melhoram a produção. Gosto de fazer a correção do solo, de ver as coisas dando certo”, explica o rapaz.
Marco Antônio conta que é um dos poucos jovens que ficaram na região. A maior parte de seus amigos de infância foram para as cidades próximas buscar educação. “Eu só fiquei por que gosto muito do que eu faço e também da qualidade de vida no campo, de ter alimentos saudáveis, da tranquilidade que temos aqui”, afirma. Quando perguntamos o que falta para ser perfeito, ele respondeu: “Estradas melhores, acesso à saúde, acesso à educação e opções de lazer. Se tivesse essas coisas, acho que muita gente preferiria ter ficado aqui”, comenta o agricultor. Nesta época do ano, ele colhe os grãos de café em sua propriedade. Acorda 4h da manhã e só para de trabalhar depois que escurece. A rotina é dura, mas, para ele, gratificante.
Mais ao norte, no município de Mutuípe (BA), a agricultora Damiana Martins dos Santos, 48 anos, produz derivados do cacau. Chocolates, cacauada, chocolate em pó, cocadas, bombons. Além da produção própria, ela faz parte de uma cooperativa só de mulheres, na qual 45 trabalhadoras também trabalham com produtos do cacau.
Na propriedade de 2,7 hectares, além do fruto do chocolate, Damiana produz ainda banana, graviola, acerola, cupuaçu, laranja, limão e mandioca. Ela trabalha com o marido, já que os três filhos estão se dedicando aos estudos. O mais velho (23 anos) estuda Geografia, a do meio (17 anos), estuda para ser técnica agrícola, e a mais nova (14 anos), para técnica em alimentação. “O estudo é o caminho para o futuro deles. Na prática, eu vi que políticas de crédito como o Pronaf Mulher ou o Pronaf Jovem não funcionam: é muita burocracia, parecem que não querem dar o dinheiro. É conversa fiada”, afirma a agricultora. “É preciso dar incentivo para a gente que quer trabalhar, quer produzir, quer ficar no campo”, insiste Damiana.
A agricultora se mostra indignada com os retrocessos impostos ao povo brasileiro. “Esse governo golpista, sem legitimidade, que acha que pode fazer mudanças sem levar em consideração as necessidades do povo, sem consultar a população. Trabalho desde os sete anos e talvez nem consiga me aposentar. Todos os movimentos sociais precisam se unir e fazer o que for preciso, porque sabemos que não se conquista nada sem a intervenção popular. Na cooperativa todas as mulheres acham o mesmo. Muitas delas, quando leem sobre o que significará essas reformas, conseguem compreender o retrocesso na vida delas, como isso vai afetar o futuro delas”, explica.
“Para onde vão nossas contribuições?”
No município de Piracanjuba, em Goiás, Diego Gonçalves Silva, 26 anos, produz leite para vender, além de bananas, mandioca, milho e abacaxi. No terreno de 14 hectares que comprou por meio do Crédito Fundiário, ele vive com a esposa, de 24 anos. Para ele, a principal vantagem de morar no interior é a tranquilidade. “Mas, no futuro, quando eu tiver filhos, é provável que eu mande para a cidade para estudar, para que eles não precisem ter uma vida tão cansativa como a minha. Mas eles vão decidir se querem ficar ou não”, pondera o rapaz. “Mas nós estamos acompanhando todas essas mudanças que querem fazer na vida dos rurais, e, se aprovar, vai ficar muito ruim”, afirma Diego.
É o caso da aposentadoria rural, que está sendo ameaçada pela proposta descabida do atual governo. Caso a mudança seja aprovada, os prejuízos para os trabalhadores e trabalhadoras rurais serão enormes, como explica a agricultora Dorislene Luiza Ferreira, 44 anos, também de Piracanjuba (GO). “Em todas as notas fiscais de venda do leite que eu produzo está descontada a porcentagem do INSS. Para onde vai esse dinheiro? Como é que podem dizer que o agricultor familiar não contribui para a Previdência? Com o tanto que eu contribuo dá para pagar a aposentadoria de três pessoas”, aponta ela.
Dorislene começou a trabalhar aos sete anos, fazendo pequenas tarefas junto com os irmãos e irmãs, como é comum no meio rural. Na juventude, sempre morou na terra dos outros. Os pais arrendavam, ou viviam de comodato, “sempre trabalhando o dobro, porque precisam dividir a produção com os donos da terra”, lembra ela. Hoje é assentada da Reforma Agrária e produz leite. “Meu marido trabalha muito, tirando leite duas vezes por dia para que a gente tenha produção suficiente. Eu também trabalho cuidando do gado, da casa, trabalhando no sindicato. A vida dos trabalhadores daqui é muito parecida com a minha: muito trabalho, sonhando com a aposentadoria, que talvez nem chegue”, conta ela. Mas, apesar de todas as dificuldades, Dorislene afirma: “Gosto da minha vida, aqui tem menos barulho, o ar é limpo, temos tranquilidade. Eu não me mudaria do campo”.
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