Recordamos o essencial da Viagem Apostólica a Cuba e EUA que decorreu de 19 a 27 de setembro de 2015.
Rui Saraiva - Porto
Em 2015, no segundo ano do pontificado do Papa Francisco, teve lugar uma importante Viagem Apostólica. Foi a Cuba e aos Estados Unidos da América (EUA). De 19 a 27 de setembro o Santo Padre regressou ao continente americano.
Começando por Cuba, recordamos o essencial desta viagem papal, no histórico registo áudio da redação de língua portuguesa da Rádio Vaticano, num trabalho de Rui Saraiva, Dulce Araújo e Bernardo Suate.
Visita a Cuba, 19 a 22 de setembro 2015
O Papa Francisco esteve em Cuba de 19 a 22 de setembro tendo-se encontrado com o Presidente Raúl Castro e recordado as visitas dos seus antecessores João Paulo II e Bento XVI que fortificaram os laços de cooperação e amizade entre aquele país e a Santa Sé. O Papa sublinhou, na ocasião, a retoma das relações diplomáticas de Cuba com os EUA como um sinal da cultura do encontro e do diálogo.
O Santo Padre foi acolhido com grande alegria pelos católicos cubanos e apelou ao serviço no cuidar dos frágeis da sociedade. Ao clero de Cuba o Papa exortou a viverem na pobreza e na misericórdia. Aos jovens, por sua vez pediu-lhes para terem corações abertos e a viverem a amizade social.
Significativa a visita do Papa Francisco em Cuba à cidade de Santiago e ao Santuário da Virgem da Caridade do Cobre onde o Santo Padre sublinhou a força revolucionária da ternura de Maria, Mãe de Jesus:
“Como Maria, queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade de um povo nobre e digno. Como Maria, Mãe da Caridade, queremos ser uma Igreja que saia de casa para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação. Como Maria, queremos ser uma Igreja que saiba acompanhar todas as situações «grávidas» da nossa gente, comprometidos com a vida, a cultura, a sociedade, não nos escondendo, mas caminhando com os nossos irmãos. Todos juntos, servindo, ajudando; todos filhos de Deus, filhos de Maria, filhos desta nobre terra cubana.”
Também em Cuba um importante encontro foi aquele que aconteceu com as famílias. Uma cereja sobre o bolo. Foi assim que o Papa considerou o seu encontro com as famílias na Catedral de cidade de Santiago última etapa da sua visita a Cuba. O Papa agradeceu por lhe terem feito sentir em família, em casa, ao longo destes dias.
“Sem família, sem o calor do lar, a vida torna-se vazia; começam a faltar as redes que nos sustentam na adversidade, alimentam a vida quotidiana e motivam na luta pela prosperidade. A família salva-nos de dois fenómenos atuais: a fragmentação, ou seja, a divisão e a massificação”.
Em ambos estes casos – continuou o Papa – as pessoas transformam-se em indivíduos isolados, fáceis de manipular, de controlar. É como se perdêssemos os fundamentos do nome que temos. E recordou que a família é escola de humanidade, pedindo o favor de não nos esquecermos disto:
“As famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; uma oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar, quer dizer, são uma bênção”.
No dia 22 o Santo Padre despediu-se de Cuba e rumou aos EUA.
Visita aos EUA, de 22 a 27 de setembro 2015
O Papa Francisco nos EUA foi acolhido pelo presidente Barack Obama e ficou naquele país até domingo dia 27. Significativo o encontro na Casa Branca no dia 23 onde o presidente norte-americano sublinhou a humildade, a simplicidade, a generosidade espiritual e o exemplo moral do Santo Padre.
Muito importante para a Igreja nos Estados Unidos a celebração no Santuário da Imaculada Conceição em Washington onde o Papa proclamou santo o Padre Junípero Serra, evangelizador da Califórnia no séc. XVIII. O Papa sublinhou na sua homilia o valor da missão e, em particular, o lema do novo santo: “Sempre avante”:
“Teve um lema que inspirou os seus passos e plasmou a sua vida: Soube-o dizer mas sobretudo viver: “Sempre avante”. Esta foi a maneira que Junípero encontrou para viver a alegria do Evangelho, para que não se anestesiasse o seu coração. Foi sempre avante, porque o Senhor espera; sempre avante, porque o irmão espera; sempre avante por tudo aquilo que ainda tinha para viver; foi sempre avante. Como ele então, possamos também nós hoje dizer: sempre avante.”
Na sua passagem por Washington teve grande impacto a visita do Papa Francisco ao Congresso dos EUA:
Francisco no Congresso Americano acolhido com grandes aplausos. É a primeira vez que um Papa põe os pés na casa onde são emanadas as leis nos Estados Unidos.
Tendo como refrão no seu discurso o diálogo, a procura do bem comum e a dignidade para todos, o Papa colheu na própria cultura, história dos Estados Unidos o exemplo de algumas personalidades do país para encorajar numa caminhada edificadora para o povo americano e para o mundo inteiro.
E neste ano em que se comemoram importantes aniversários de algumas figuras, como o cento-cinquentenário do assassínio de Abraham Lincoln, cinquenta anos da marcha conduzida por Martin Luther King, e o centenário de nascimento de Thomas Merton, o Papa referiu-se a eles, mas também a Dorothy Day, fundadora do Movimento dos Trabalhadores Católicos.
Quatro indivíduos, quatro sonhos que devem continuar a orientar os cidadãos dos Estados Unidos. Lincoln pela sua opção pela liberdade; Martin Luther King pela liberdade sem exclusão; Dorothy Day, pela justiça social e os direitos da pessoa; Thomas Merton, pela capacidade de diálogo e de abertura a Deus.
Em Nova Iorque foi histórica a visita do Papa Francisco à Organização das Nações Unidas na sexta-feira dia 25. No discurso ali proferido de sublinhar o apelo decidido do Santo Padre pela defesa do ambiente. Também de registar a defesa da paz e a denúncia do tráfico de seres humanos, da exploração sexual de menores e do tráfico de drogas e armas.
Significativa a visita do Santo Padre ao Memorial do Ground Zero de Manhattan em Nova Iorque onde participou num encontro inter-religioso. Muito importante para os católicos nova-iorquinos foi a Missa no Madison Square Garden onde na sua homilia o Papa afirmou que Deus vive nas nossas cidades e quer misturar-se com todos:
“Ir ter com os outros para partilhar a boa notícia de que Deus é nosso Pai. Ele caminha ao nosso lado, liberta-nos do anonimato, duma vida sem rostos, vazia, e introduz-nos na escola do encontro. Liberta-nos da guerra da competição, da autorreferencialidade, para nos abrirmos ao caminho da paz. Aquela paz que nasce do reconhecimento do outro, aquela paz que surge no coração ao ver, de modo especial, o mais necessitado, como um irmão.”
Os dias 26 e 27 de setembro foram os últimos da visita do Papa Francisco aos EUA e foram vividos na cidade de Filadélfia. Em destaque a participação do Santo Padre no VIII Encontro Mundial das Famílias. Em primeiro lugar a vigília de oração no sábado dia 26 com testemunhos, orações, histórias de vida e canções que encheram de alegria e esperança as famílias presentes no Benjamin Franklin Parkway de Filadélfia.
O Papa disse que Deus não nos abandona e mandou-nos o seu próprio “Filho” como “expressão do Seu Amor”. E não o enviou para um palácio, para uma cidade ou para uma empresa, mas “para uma família”. “Deus entrou no mundo numa família”.
Deus bateu à porta de uma família e Maria e José foram obedientes – afirmou o Papa que declarou que a família tem cidadania divina, num bilhete de identidade dado por Deus para que as “famílias cresçam em bondade, verdade e beleza”.
O Santo Padre no seu discurso improvisado não deixou de falar nos muitos problemas das famílias, na relação conjugal e também com os filhos, afirmando que nas famílias há sempre “cruz”, mas que também há depois “ressurreição” porque a família é uma “fábrica de esperança”. As dificuldades só se superam com o Amor – afirmou o Papa Francisco.
No final da sua intervenção o Santo Padre invocou as crianças e os avós. As crianças são a força e os avós a memória. Cuidar de uns e de outros promete-nos o futuro.
O Papa Francisco a todos abençoou e pediu para cuidarem e defenderem a família porque “é aí que se joga o nosso futuro”.
Com a Missa de encerramento do VIII Encontro Mundial das Famílias que decorreu em Filadélfia concluiu-se a Viagem Apostólica do Papa Francisco a Cuba e aos EUA em setembro de 2015. Cinco anos depois recordamos os principais momentos de uma histórica visita e o essencial das mensagens do Santo Padre.
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