Nós, participantes da 2ª Conferência Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural, entre os dias 31 de maio e 3 de junho,
manifestamos nosso repúdio aos retrocessos de direitos dos povos do
campo, das águas e das florestas, promovidos pelo governo ilegítimo de
Michel Temer e afirmamos nesta carta os princípios, diretrizes e
políticas para um desenvolvimento rural sustentável e solidário.
A extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) sintetiza
o grave momento vivido pelo País, que afeta, sobretudo, a classe
trabalhadora e as populações historicamente marginalizadas, dentre as
quais as agricultoras(es) familiares.
As conquistas das políticas para o desenvolvimento rural,
sustentável e solidário dos últimos 13 anos, dentre elas a própria
afirmação dos conceitos de agricultura familiar, com a Lei 11.326/2006, e
de povos e comunidades tradicionais, com o Decreto 6.040/2007,
encontram-se sob forte ameaça de desmonte. O risco de retrocessos
repercute não apenas no Brasil, mas também internacionalmente,
principalmente nos países latino americanos, caribenhos e africanos,
haja vista a condição de referência das políticas coordenadas pelo MDA
para a afirmação da agricultura familiar e para o desenvolvimento rural
destes países em fóruns internacionais como a Reunião Especializada da
Agricultura Familiar (REAF Mercosul), a Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos
(CELAC) e a própria Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO).
Não reconhecer a importância da agricultura familiar para o
desenvolvimento sustentável do país significa desconsiderar o papel que
as populações do campo, das florestas e das águas desempenham na geração
de renda e riquezas e na promoção da soberania e segurança alimentar e
nutricional com alimentos saudáveis, acessíveis à população brasileira.
Destacamos ainda seu papel para a soberania e segurança hídrica e
energética, que também estão ligados aos desafios postos para a
sustentação das condições de vida humana no planeta.
Soma-se a esses aspectos, a reafirmação dos princípios e objetivos
da Política Nacional de ATER (PNATER), materializados na Lei
12.188/2010, que expressa a construção coletiva na ação da extensão
rural que, coordenada pelo MDA, buscava integrar as políticas públicas
para a promoção do modelo desenvolvimento rural sustentável e solidário
defendido por esta Conferência.
As diferentes etapas da 2ª CNATER, ocorridas até aqui, reuniram
mais de 40 mil participantes, envolvidos/as na formulação e priorização
de propostas para a assistência técnica e extensão rural para a
agricultura familiar, distribuídas nos eixos i) Sistema Nacional de ATER
- fortalecimento institucional, estruturação, gestão, financiamento e
participação social; ii) ATER e políticas públicas para a agricultura
familiar; e iii) Formação e construção de conhecimentos na ATER; e nos
três eixos transversais da Conferência, i) ATER e Mulheres Rurais; ii)
ATER e Juventude Rural; e iii) ATER e Povos e Comunidades Tradicionais.
Todas as propostas foram construídas a partir de um cenário de
manutenção e ampliação dos direitos e das políticas públicas; da
promoção da agroecologia; da valorização da diversidade do rural
brasileiro e, em especial, das mulheres, da juventude e dos povos e
comunidades tradicionais, como públicos prioritários do MDA. Todavia,
diante do ataque à democracia, a retrocessos de direitos e extinção do
MDA, nós, participantes da 2ª CNATER, manifestamo-nos:
Na defesa intransigente da democracia, dos direitos legitimamente
conquistados e estabelecidos em nossa Constituição Federal e do programa
político legitimamente eleito no último pleito eleitoral.
Na defesa da liberdade de expressão e mobilização social e política
ameaçada pela intensificação, nos últimos dias, da criminalização dos
movimentos sociais e suas lideranças.
Em defesa da reforma agrária, da demarcação e regularização
fundiária de terras para agricultores/as familiares, camponeses/as,
indígenas e quilombolas. Pela ampliação e fortalecimento do
PNCF-Programa Nacional de Crédito Fundiário. Pela criação das Unidades
de Conservação de Uso Sustentável (Resex – Reservas Extrativistas e
RDS-Reservas de Desenvolvimento Sustentável). Contra a estrangeirização
das terras; pelo fim do latifúndio e pelo cumprimento da função social
da terra.
Em defesa das políticas de apoio ao cooperativismo e ao
associativismo, de agregação de valor à produção, de
agroindustrialização da agricultura familiar e, ainda, de estímulo à
economia solidária.
Em defesa das políticas públicas para o desenvolvimento rural
sustentável e solidário e retomada do Ministério do Desenvolvimento
Agrário para executar e coordenar essas ações.
Em defesa da política de desenvolvimento territorial que garanta o
encontro e a integração das políticas públicas nos territórios da
cidadania e territórios rurais, promovendo a participação e o controle
social e a cidadania.
Em defesa do direito da produção, uso e troca de sementes crioulas,
estimulando territórios agroecológicos e livres de transgênicos,
ameaçados pela Lei de Biossegurança e pelo uso das sementes
geneticamente modificadas – “os transgênicos”.
Pela manutenção e ampliação das políticas públicas para as mulheres
rurais, com efetivação da cidadania, garantia de seus direitos
econômicos e socialização do trabalho doméstico e de cuidados,
fortalecendo e valorizando suas atividades produtivas e reprodutivas em
todos os espaços, a exemplo dos quintais produtivos, tanto para
comercialização quanto para o autoconsumo, reconhecendo, assim, que não
há desenvolvimento rural sustentável e solidário sem a efetiva
participação das mulheres rurais.
Pela manutenção e ampliação das políticas de povos e comunidades
tradicionais, fortalecendo a Política Nacional de Desenvolvimento
Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), com o
reconhecimento de suas especificidades, promoção da autonomia econômica e
a valorização de seu papel na preservação dos conhecimentos e do meio
ambiente, dos saberes e da cultura.
Em defesa da implementação do Plano Nacional de Juventude e
Sucessão Rural, para a promoção de políticas públicas que estimulem a
emancipação e autonomia das juventudes do campo, das florestas e das
águas.
Pela manutenção da Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica – PNAPO e implementação do II Plano Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica - PLANAPO II, garantindo ações de fomento à produção
agroecológica, voltadas prioritariamente às mulheres, povos e
comunidades tradicionais.
Pelo lançamento e implementação do Programa Nacional de Redução do
Uso de Agrotóxicos (PRONARA), que reforça a defesa do desenvolvimento
sustentável, da conservação ambiental e do fim do uso de agrotóxicos.
Em defesa do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf), reorientado para a Agroecologia, do Seguro da
Agricultura Familiar (SEAF) e das políticas de comercialização da
produção da agricultura familiar, incluindo as políticas de compras
públicas e institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Em defesa das políticas de infraestrutura e promoção da qualidade
de vida no meio rural, dentre as quais destacamos o Programa Luz para
Todos; Minha Casa Minha Vida Rural; o Programa Cisternas; o Programa de
Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (Pronat); o Programa
de Apoio à Infraestrutura dos Territórios Rurais (Proinf); dentre
outros.
Em defesa da educação no e do campo, contextualizada às realidades
rurais, do fortalecimento dos centros familiares de educação por
alternância (Ceffas); do Programa Nacional de Educação do Campo
(Pronacampo); do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(Pronera); Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em
Educação do Campo (Procampo); do Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec); da expansão das Universidades Federais e
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs) e das
políticas afirmativas, como as cotas raciais.
E, finalmente, em defesa da universalização do acesso à Assistência
Técnica e Extensão Rural para a agricultura familiar, em consonância
com os princípios, diretrizes e instrumentos da PNATER, construída e
conquistada pelas populações do campo, das águas e das florestas.
Reafirmamos que a Anater – Agência Nacional de Ater, que tem como missão
de implementar a PNATER, avance na garantia do atendimento público e
gratuito de uma ATER dialógica, agroecológica, feminista e diferenciada
para os diversos púbicos da agricultura familiar.
Assim, ratificamos nosso compromisso na defesa do Estado
democrático de direito e do desenvolvimento rural sustentável e
solidário.
Contra o golpe! Nenhum direito a menos!
Fora Temer!
Brasília, 03 de junho de 2016
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FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Barack Fernandes |
segunda-feira, 6 de junho de 2016
Em defesa da democracia e das políticas de desenvolvimento rural sustentável e solidário e contra o retrocesso de direitos e extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)
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