força, orgulho, beleza e garra: a Marcha das Mulheres Negras reuniu hoje
(18) em Brasília mais de 20 mil pessoas sob o lema “Contra o racismo, a
violência e pelo bem viver”. Vindas de todos os estados brasileiros,
mulheres negras, mulatas, caboclas e mestiças marcharam para mostrar ao
mundo que são protagonistas da história de nosso País. “As mulheres
negras carregaram o Brasil nas costas e na barriga”, proclamava um grupo
de feministas da região sudeste.
As trabalhadoras rurais também participaram dessa grande celebração do
poder da mulher negra. Quase 200 mulheres vieram dos estados de Distrito
Federal, Espírito Santo, Goiás e Minas Gerais. A secretária de Mulheres
da CONTAG, Alessandra Lunas, reafirmou a importância da luta de todas
as mulheres para garantir não apenas seu espaço na sociedade, mas também
respeito e valorização. “As mulheres rurais, em sua maioria negras,
estão unidas para lutar sempre por igualdade, justiça, autonomia e
liberdade”, destacou a dirigente.
Aos 60 anos, Neuza da Silva Menegueli, ainda não conseguiu se aposentar,
pois nunca teve carteira assinada. Ela também foi expulsa da terra que
ocupava no município de Sooretama (ES). Atualmente, ela mora com a mãe e
o marido no mesmo terreno que a filha dividiu com ela, na associação
quilombola Córrego da Angélica, no município de Conceição da Barra (ES).
Lá, Neuza ainda cultiva feijão, milho, abóbora e melancia, mas planeja
se dedicar à pimenta do reino. Depois de 36 horas de viagem, ela acha
muito importante estar presenta na marcha. “Precisamos ir atrás dos
nossos direitos, lutar e mostrar a cara”, disse ela.
Para Raimunda Maria do Nascimento, as mais de 15 horas de viagem desde
Barroso (MG) valeram a pena. “A sociedade precisa valorizar os negros e
as mulheres. As mulheres negras são até hoje discriminadas e isso tem
que mudar”, afirmou ela.
Parlamentares e representantes de diversas entidades políticas e sociais
participaram da Marcha. Um dos destaques foi a presença da Secretária
de Mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU), Phumzile
Mlambo-Ngcuka, que foi vice-presidente da África do Sul durante o
mandato de Nelson Mandela. Além da secretária de Mulheres da CONTAG,
Alessandra Lunas, também estavam presentes a Ministra de Mulheres,
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, a secretária
especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República,
Eleonora Menicucci, a vice-presidente da CUT, Carmen Foro, entre
diversos outros importantes nomes da luta das mulheres, que falavam no
carro de som tendo como acompanhamento palavras de ordem das mulheres:
“A nossa luta é todo dia contra o racismo, o machismo e a homofobia!”
Saiba mais sobre a Marcha das Mulheres Negras
Idealizada em 2011, o objetivo da marcha é articular as mulheres negras
brasileiras e reunir diversas organizações de mulheres negras, assim
como outras organizações do Movimento Negro, sem dispensar o apoio de
organizações de mulheres e de todo tipo de organização que apoiem a
equidade sociorracial e de gênero. O protagonismo é de mulheres negras
brasileiras.
- As mulheres negras (pretas + pardas) são cerca de 49 milhões espalhadas por todo o Brasil;
- O racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e
econômica, tem prejudicado vida dessas mulheres, rebaixando a
auto-estima coletiva e nossa própria sobrevivência;
- O fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos
séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra,
especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.)
até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;
- As mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho;
- A construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na
perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização,
dificultando que possam assumir espaços de poder, de gerência e de
decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da
representação política e social;
- As mulheres negras sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas
informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de
trabalho;
- As mulheres negras ainda não têm direitos humanos (direitos civis,
políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente
respeitados.
O comitê impulsor da Marcha das Mulheres Negras 2015 é composto por:
Agentes de Pastoral Negros – APNs
Articulação Nacional de Mulheres Negras – AMNB
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN
Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas – FENATRAD
Fórum Nacional de Mulheres Negras
Movimento Negro Unificado – MNU
União de Negras e Negros pela Igualdade – UNEGRO
fonte do blog da contag