A tradição católica de cuidados com a saúde deixou seu legado secular que, num momento como esse, continua ao nosso alcance. Hoje, em todo o Brasil, milhares de paróquias estão presentes no cotidiano dos bairros carentes da cidade, em lugares onde o Estado não alcança.
Dom João Bosco Óliver de Faria - Arcebispo Emérito de Diamantina, MG e Presidente da Pró-Saúde
Os dados mais recentes sobre o novo coronavírus nas grandes cidades confirmam que a doença pode ser dez vezes mais letal nas regiões mais pobres, a exemplo das periferias, onde as pessoas já sofrem com várias outras dificuldades.
A covid-19 escancara, mais uma vez, a desigualdade social no Brasil. O vírus foi introduzido no país por cidadãos que viajaram ao exterior e se contaminaram. No entanto, a doença ataca e mata cada vez os mais pobres.
A velocidade com a qual o vírus se dissemina acaba atingindo expressivamente a população que reside em comunidades carentes de água potável e de esgoto, que depende do transporte público para se locomover, que compartilha a moradia com muitas outras pessoas sem poder evitar aglomerações.
Diante desse cenário, é providencial lembrarmos a Campanha da Fraternidade deste ano, em que Papa Francisco se inspira no Evangelho de Lucas. Com o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, em referência à parábola do Bom Samaritano (Lc 10,34-35), fala justamente sobre a necessidade de servirmos de forma carinhosa ao próximo e, assim, impactarmos a vida de tantos que sofrem abandonados à margem.
A Medicina é parte disso e, como pontuado por Sua Santidade, por definição, “está a serviço da vida humana, de todas as pessoas”. Não poderia ser diferente, portanto, que a Igreja Católica se mobilizasse e colocasse à disposição de governos municipais e estaduais seus espaços paroquiais, casas de retiro, centros esportivos e áreas ao ar livre para acolher os afetados.
A tradição católica de cuidados com a saúde deixou seu legado secular que, num momento como esse, continua ao nosso alcance. Hoje, em todo o Brasil, milhares de paróquias estão presentes no cotidiano dos bairros carentes da cidade, em lugares onde o Estado não alcança. São espaços que podem ser transformados em leitos temporários, para atender aos doentes por covid-19 nas regiões periféricas.
A Pró-Saúde, entidade filantrópica conduzida por religiosos que atua com gestão hospitalar há 52 anos e atende cerca de um milhão de pacientes por mês, também dispôs de seu capital humano profissional para atuar na instalação e operacionalização desses espaços de atendimento.
Mais do que experiência técnica, como uma das maiores redes de atendimento em saúde no País, a Pró-Saúde tem conhecimento de Brasil, onde atendeu em 12 estados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em regiões já antes tão carentes de atenção e assistência como Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Mato Grosso, com forte presença na Amazônia brasileira.
É um gesto importante e uma alternativa que, para virar realidade, precisa ser incorporada à estratégia das autoridades públicas. Na iminência do sistema de saúde entrar em colapso é importante celeridade nas ações. Conhecemos o sofrimento diário das famílias que vivem nas periferias e o alívio para nossos irmãos depende de um esforço coletivo e organizado para evitar situações dramáticas.
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