No 60° aniversário da independência do ‘Congo Belga’ que depois se tornou República Democrática do Congo, o Arcebispo de Kinshasa Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, presidiu nesta terça-feira (30/6) a uma liturgia da palavra, fazendo um balanço da história nacional. O País está em crise, cada qual se assuma as suas responsabilidades, sublinhou o Purpurado.
Cidade do Vaticano
Aos 30 de junho de 1960, o Congo Belga proclamava a sua independência, abrindo de facto a estrada para aquela que se tornaria a República Democrática do Congo. 60 anos depois daquela histórica data, o Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo metropolitano de Kinshasa, presidiu nesta terça-feira 30 de junho a uma liturgia da palavra, fazendo um balanço da história nacional.
O quadro que emergiu das suas palavras não é tranquilizador: o purpurado disse, de facto: "Um rápido olhar para os últimos sessenta anos mostra que o grande sonho do povo congolês tem sido gradualmente quebrado (...). Temos visto a sucessão de regimes autocratas chegando ao poder como os colonos, ou seja, sem nenhuma preocupação com a vontade do povo". Uma atitude que, sublinhou o arcebispo, continua ainda hoje, pois se observam no País a violência, as guerras, a fraude, a gestão da 'res publica' para benefício pessoal e não para o bem comum.
Cultura de impunidade e ausência de um Estado de direito
Acima de tudo isso, reiterou o Cardeal Ambongo, existe ainda a "cultura da impunidade" predominante no país e a ausência de um Estado de direito que respeite a independência de cada um dos poderes. E quem paga as conseqüências disso é a população que, "60 anos após a independência, continua a empobrecer-se cada vez mais", enquanto o território nacional é continuamente fragmentado e violado.
Conflitos escondem política de ocupação do País
Mais concretamente, o Purpurado referiu-se aos muitos conflitos presentes no país, como os da região de Beni-Butembo, de Kivu e da província de Tanganyca: todos eles confrontos que "escondem a política de ocupação do País", explicou o Arcebispo, denunciando em seguida "a desapropriação dos recursos naturais nacionais" que acontece "à luz do sol, com a cumplicidade de alguns congoleses, sem que a população realmente possa tirar deles algum benefício".
Fracassámos vergonhosamente cada qual assuma suas responsabilidades
E daí, o amargo balanço traçado pelo Cardeal Ambongo: "Após 60 anos de independência, os factos são irrefutáveis: fracassamos vergonhosamente". E é, pois, olhando o Evangelho que cada qual deve assumir as suas responsabilidades: “O que fizemos com o nosso País? - é a pergunta feita pelo Cardeal - O que fizemos com todas as suas riquezas e potencialidades? " E a resposta deve ser dada diante de Deus, Juiz supremo, acrescentou o Arcebispo.
Coalizão no governo “apenas de nome”
Olhando, também, para a coalizão política atualmente no governo, formada pela Frente Comum para o Congo (FCC) de Joseph Kabila e o partido "Rumo à Mudança" (CACH) de Felix Antoine Tshisekedi, o Cardeal Ambongo chamou-a uma coalizão “apenas de nome": entre os dois lados, de facto, “nasceu uma perigosa relação de rivalidade que corre o risco de arrastar todo o País ao caos", visto que "a acção do governo está paralisada e o legítimo serviço que se deveria prestar à população é sacrificado". "Em última análise – observou ainda o Cardeal - a coalizão no poder perdeu a sua razão de ser e é responsabilidade dos seus membros dissolvê-la, pois ela condiciona o desenvolvimento do País”.
Desprezo das autoridades em relação à Igreja
O Cardeal Ambongo recordou também uma recente declaração da Conferência Episcopal, em que se exprimia preocupação com os projectos de lei sobre reforma judicial e a falta de consenso entre os membros da Plataforma das Confissões Religiosas sobre a designação de um candidato comum para a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI): denunciando "uma atitude de desprezo" das autoridades políticas em relação à Igreja Católica e Protestante que "se pronunciaram com uma maioria esmagadora contra essas normativas", o Cardeal Ambongo exortou os católicos, protestantes e membros da sociedade civil a tomar partido contra tais projetos que têm como único objectivo o de "proteger os interesses daqueles que não querem a justiça". "Depois de 60 anos de independência, não se pode continuar a governar por desafio, desprezando o povo e a Igreja", concluiu o Cardeal.
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