O novo Núncio encontrará um Brasil que vive uma situação complicada e uma Igreja que se esforça para viver o Evangelho e estar ao lado dos pobres.
Padre Modino - REPAM
A Santa Sé comunicou no último dia 29 de agosto a nomeação de Dom Giambattista Diaquattro como novo Núncio no Brasil. Mais uma vez, será um italiano quem vai ocupar a representação diplomática do Vaticano em Brasília, algo que se tornou tradição em pouco mais de dois séculos. O único Núncio no Brasil não nascido na Itália foi Dom Umberto Mozzoni, entre 1969 e 1973, argentino de ascendência italiana.
O novo Núncio já foi embaixador do Papa no Panamá, na Bolívia e atualmente era o representante pontifício na Índia e no Nepal. O bispo do Vicariato de Pando, na Bolívia, Dom Eugênio Coter, nomeado bispo no tempo em que o novo Núncio estava naquele país, define o diplomata italiano como “alguém muito tranquilo e respeitoso da autonomia da Conferência Episcopal”. Ao mesmo tempo, Dom Coter não vê o novo Núncio no Brasil como alguém dado a “provocar enfrentamentos com o governo, sem muita inclinação a intervir em conflitos”.
Ao ser questionado sobre o que novo Núncio no Brasil encontrará, Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, grande conhecedor da realidade eclesial, social e política do Brasil, após oito anos como Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, afirma que “o Núncio Apostólico nomeado para a Nunciatura no Brasil será bem acolhido. A Igreja no Brasil sempre acolheu bem os núncios enviados pelos Papas”.
Segundo Dom Leonardo, o novo Núncio “encontrará uma Igreja que procura ser fiel ao Evangelho e ao magistério da Igreja. Uma Igreja com um laicato dedicado e ativo, uma Vida Religiosa que busca viver o carisma dos fundadores, fundadoras e presente nas igrejas particulares, um número crescente de novas comunidades, um presbiterado que cresce em número e no espírito missionário”, algo que o novo arcebispo de Manaus tem descoberto na Igreja particular de Manaus, onde é grande o número de missionários chegados de diferentes pontos do Brasil e de outros países.
O ex-secretário da CNBB, também afirma que na Igreja do Brasil há “uma presença de fiéis que não gostam de seguir os ensinamentos de papa Francisco”. Na grande maioria dos que fazem parte da Igreja católica no Brasil, o novo Núncio “encontrará uma Igreja que se esforça para viver o Evangelho e estar ao lado dos pobres e sofridos”. Ao mesmo tempo, Dom Leonardo Steiner afirma que Dom Giambattista Diaquattro, “na Igreja no Brasil encontrará diferentes interpretações teológicas e compreensões eclesiológicas. Como santa e pecadora, uma Igreja viva e dinâmica”.
Uma das missões mais importantes dos núncios é a escolha das ternas entre as que o Papa nomeia os futuros bispos. Nesse sentido, o Brasil, com mais de 250 circunscrições eclesiásticas, é uma Conferência Episcopal onde as mudanças no episcopado são constantes. Entre os bispos, Dom Leonardo afirma que o novo Núncio “encontrará um episcopado em comunhão e que vive a colegialidade. Nessa convivência fraterna encontrará diferentes modos de ver as questões políticas e sociais, as impostações teológicas e eclesiais”, mas o arcebispo insiste em que “verá nas diferenças, comunhão!”
Brasil está vivendo uma situação política e social complicada, algo que tem se agravado com a pandemia da COVID-19.
Em um país onde a região amazônica representa mais da metade do território nacional, e os bispos da Amazônia tem se posicionado fortemente nos últimos meses, o novo Núncio encontrará, segundo Dom Leonardo, “o momento propício para ajudar a tornar realidade os quatro sonhos de Papa Francisco, expressos na Querida Amazônia”.
Ao mesmo tempo, falando de uma questão de particular importância na agenda do Papa Francisco e que deveria estar presente entre as preocupações do emissário vaticano no Brasil, como é o tema da ecologia integral, Dom Leonardo Steiner, afirma que chegado no Brasil, o novo Núncio, “entenderá porque a Conferência Episcopal Brasileira insiste tanto na questão do meio ambiente e na defesa dos povos originários e nas políticas públicas”. Junto com isso, o arcebispo afirma que Dom Giambattista Diaquattro “entenderá porque os brasileiros amam e rezam pelo Papa”, insistindo em que “ele se sentirá bem-vindo!”
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