segunda-feira, 19 de junho de 2017

Chega de violência: idosos e idosas merecem respeito!




FOTO: Arte: César Ramos





A idade chega, mas a lida continua para os trabalhadores e trabalhadoras rurais de nosso imenso Brasil. No campo, nas florestas e nas águas, pessoas a partir dos 55 anos continuam plantando, criando animais, fazendo artesanato, trabalhando em casa, cuidando de filhos, netos e parentes. Continuam em atividade também nas decisões políticas do nosso Brasil, onde, na última eleição, aproximadamente 36 milhões de idosos(as) votaram e ajudaram a decidir os rumos do nosso país. 
Estão ativos também nos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, onde, atualmente, representam mais de 50% dos filiados(as) e sua contribuição sindical corresponde a mais de 60% da sustentabilidade das instâncias do Sistema CONTAG, de acordo com dados do Setor de Tecnologia e Informática da CONTAG (SETEC/CONTAG-2017).

Mesmo com tamanha importância, constantemente sofrem na pele e na alma vários tipos de violações (física, psicológica, abuso financeiro e econômico, etc). “Uma vez eu fui pagar uma conta em uma Agência Bancária, como eu não sei ler e tenho dificuldades de visão, chamei um rapaz do Banco que não deu a mínima atenção para mim. Me senti humilhada na frente de todo mundo”, revela a idosa Francisca Ferreira da Silva, do acampamento Tiradentes, em Brasília-DF. Atualmente, a agricultora familiar mora debaixo de um barraco de lona, com três filhos, sete netos e não tem aposentadoria.


Dona Francisca, no acampamento Tiradentes (DF). Foto: Lívia Barreto


Dados do Disque 100, apresentados pelo Ministério da Justiça e Cidadania, sobre a violação de direitos desta parcela da população, revelam que só em 2016 foram 77% casos de denúncias por negligência, 51% por violência psicológica, 38% por abuso financeiro e econômico ou violência patrimonial e 26% por violência física e maus tratos.

Só no estado do Amapá, no ano passado, foram 40 vítimas da terceira idade que morreram em decorrência de maus-tratos. É o que aponta os números do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa (Cedpi/2016).

E é de lá do Amapá que mais um testemunho revela um dos tipos de violência constantemente sofridos pela pessoa idosa: o empréstimo consignado abusivo. “Eu mesma fiz um empréstimo de 2 mil reais para fazer uma cozinha, quando eu terminei de pagar em dezembro, paguei 4 mil. Então isso não é um empréstimo, isso é uma tomada de dinheiro”, revela a agricultora familiar Maria Cândida.

Assim como dona Maria Cândida, lamentavelmente a maioria das vítimas de fraudes não reconhecem a contratação do empréstimo, e,infelizmente, são os consumidores(as) idosos(as) os que mais sofrem com práticas abusivas e desleais devido ao desconhecimento que costumam ter.

Diante de tantas denúncias de violações, a CONTAG, Federações e Sindicatos fazem do Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado no dia 15 de junho, uma data de reafirmação da luta em nome daqueles(as) que continuam fazendo a história do Movimento Sindical, do Brasil e do mundo. “Como já deliberamos no nosso 12º Congresso da CONTAG, a Secretaria de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Terceira Idade seguirá na luta contra os diversos tipos de discriminação vivenciadas pelos idosos(as), como as situações de violência, os conflitos geracionais, a perda de autonomia, entre outros. Onde reafirmamos também a tarefa de dar visibilidade a essas pessoas, reconhecendo-as enquanto sujeitos políticos de direitos e atuantes na produção, na busca por um envelhecimento saudável e com qualidade”, afirma a secretária de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Terceira Idade da CONTAG, Josefa Rita da Silva.

Josefa ainda aponta a efetivação do Estatuto do Idoso, como um dos instrumentos imprescindíveis na defesa e empoderamento dos idosos(as). “Só com o cumprimento real do Estatuto do Idoso teremos a ampliação do sistema protetivo dos direitos fundamentais dos idosos, cuja situação atual é extremamente precária, sobretudo a dos rurais. Desta forma, caminharemos nos próximos 4 anos, nas cinco regiões do Brasil, afirmando a importância de seu cumprimento, pois apesar do perigos, estamos na luta, estamos mais VIVOS e VIVAS”. 

AÇÃO

No próximo dia 21 de junho, a secretária de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Terceira Idade da CONTAG, Josefa Rita da Silva, participa em Teresina-PI de um Seminário sobre o Combate à Violência contra a Pessoa Idosa no Meio Rural.

Idosos(as) não são apenas números

No Brasil, existem 28,8 milhões de pessoas com 55 anos ou mais, segundo dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010. Desse total, 4,5 milhões são rurais e estão aposentadas, e 41,3% deles permanecem economicamente ativos, trabalhando na atividade agrícola mesmo depois de aposentados.

Os aposentados e aposentadas rurais representam 28,4% do total dos aposentados no Brasil e recebem 20,1% do valor total dos benefícios. Esses dados são do Boletim Estatístico da Previdência Social, de março de 2016, que também mostra que, do total de 9,38 milhões de aposentados rurais, juntando os que moram ainda no campo e os que migraram para a área urbana, recebem em média R$ 793,19 mensais, ou seja, abaixo do salário mínimo e da média dos benefícios que chegam aos aposentados urbanos, que é de R$ 1.251,08.

Com suas aposentadorias, são elas quem movimentam a economia de quase 80% dos municípios de nosso País e são elas também que dão a sustentabilidade do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. Com sua experiência de vida e luta, são elas que preservam saberes e experiências próprios de quem vive da terra. O contato com os ciclos naturais, com as plantas medicinais, as antigas histórias, as receitas tradicionais: os idosos e idosas do campo guardam em suas memórias valores que precisam ser valorizados e transmitidos.

O IBGE também projeta que, em 40 anos, a população idosa irá triplicar no Brasil, passando de 19,6 milhões (60 anos ou mais), em 2010, para 66,5 milhões de pessoas em 2050 (29,3%).

Apesar de darem muito destaque à terceira idade e pessoas idosas em pesquisas, projeções e outros levantamentos apontando a preocupação com o aumento dessa parcela da população e da sua expectativa de vida, em vários casos são tratados(as) apenas como números. Já o movimento sindical enxerga essas pessoas de forma diferente, pois os números apontam que é preciso sim ter políticas públicas e programas para a terceira idade, de incluí-las e reconhece-las como sujeitos de direito.

Reconhecimento e visibilidade

Por isso, a CONTAG e todo o MSTTR tem buscado meios de fortalecer cada vez mais a participação das pessoas da terceira idade e idosos(as) nas atividades sindicais e sociais, por meio de iniciativas como as Plenárias Nacionais dos(as) Trabalhadores Rurais da Terceira Idade e Idosos(as), cursos específicos em diversos estados, encontros nos municípios.

Encontros como os organizados anualmente pela agricultora Arlinda Antônia de Lima, 66 anos, do município de Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco, onde ela trabalha pelo sindicato desde 1997, tendo sido presidente e hoje como suplente da secretaria de Políticas Agrícola e Agrária. Cada encontro reúne em média 400 participantes, que lêem o Estatuto do Idoso, recebem capacitações e orientações e, claro, confraternizam.


Dona Arlinda em ato no município de Santa Cruz da Baixa Verde (PE). Foto: Arquivo STTR/Fetape


“Me sinto muito feliz trabalhando no Movimento Sindical, porque vejo que minhas ações contribuem para melhorar a vida das pessoas, quando a gente repassa informações, mostra para eles a necessidade da participação política, de que é necessário trabalhar juntos para mudar a realidade”, conta Arlinda.

Ela afirma que estar ativa ajuda a viver: “Nunca fui casada e não tive filhos, meus pais já morreram e meus irmãos estão distantes. Mas nunca me sinto só porque minha família são os amigos do sindicato, os amigos que se preocupam comigo e com quem eu também me preocupo. Em qualquer idade podemos ajudar o próximo e participar da vida da sociedade. As pessoas idosas têm muita experiência para passar, mas também podem aprender muito com a juventude”, reforça a agricultora. 

“Precisamos reconhecer: são os aposentados e aposentadas rurais que mantêm o sindicato aberto, por isso precisamos mostrar que têm valor e devem contribuir politicamente. Sempre lemos o Estatuto do Idoso para informar sobre os direitos, sobre os cuidados que merecem”, explica. Dona Arlinda é um dos milhares de exemplos que podemos citar de pessoas da terceira idade que, com sua vitalidade e conhecimento, fazem do Movimento Sindical e do Brasil um espaço onde vale a pena lutar e viver. Mais respeito, zero violência!


FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Barack Fernandes, Verônica Tozzi e Lívia Barreto

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