FOTO: Arte: César Ramos
“No inverno, quando quase não temos culturas, é o período em que mais recebemos turistas, porque aqui temos geada e, às vezes, neve. Financeiramente, isso é muito bom”, afirma a agricultora Maria Elizabete Oliveira, que, junto com o marido, Joelson, faz parte do projeto de turismo rural Acolhida na Colônia, em Santa Catarina. A propriedade do casal fica a 18 km do município de São Joaquim e a 230 km de Florianópolis.
Foto: Divulgação
“Produzimos morangos e hortaliças de maneira orgânica, usando apenas técnicas naturais para manter as pragas longe, como arruda, macela, mistura de alho com pimenta, por exemplo”. A produção orgânica, junto à paisagem bem preservada, são alguns dos principais atrativos do lugar. “Os turistas vêm aqui com a intenção de conhecer e viver o nosso cotidiano, comer o que a gente come. É uma experiência muito boa, porque muitos mantêm contato com a gente, nos visitam, mostram para suas famílias, é muito gratificante”, explica ela.
Foto: Divulgação
Para Maria Elizabete, muito mais do que a geração de renda além da produção, o turismo rural proporciona troca de experiências e conhecimentos. “Antes a gente ficava aqui no interior, quietos, e com os turistas nós conhecemos mais sobre o mundo, porque eles trazem as experiências deles e nós podemos compartilhar as nossas, porque eles querem saber como nós vivemos e fazemos as coisas”, comenta a agricultora.
“Propriedades pequenas, com menos de quatro módulos rurais, podem muitas vezes acreditar que manter uma parte do terreno preservada pode significar prejuízos para a produção. Mas diversos estudos já comprovaram que manter a mata nativa é fundamental para garantir o abastecimento de água, evitar erosão e perda de matéria orgânica do solo, além de manter os animais importantes para polinização, dispersão de sementes e combate à pragas”, afirma a secretária de Meio Ambiente da CONTAG, Rosmarí Malheiros.A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2017 o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Dessa forma, neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, encontramos a oportunidade perfeita para falar sobre o turismo rural, atividade com muito potencial de crescimento em todo o País, especialmente para a agricultura familiar.
Foto: Arquivo FETAEMA
Proporcionar a experiência de tranquilidade, comida saudável, contato com a natureza, com o trabalho com a terra: esses são os principais objetivos do turismo rural. Cada vez mais pessoas que vivem nos centros urbanos sentem a necessidade de buscar o ar puro, o verde, o cheiro de mato, a produção de alimentos. A preservação do meio ambiente pode, dessa forma, ser fonte de renda lucrativa para a agricultura familiar. Em um País com paisagens naturais e culturas tão ricas como o Brasil, manter a vegetação nativa intacta pode ser mais do que sobrevivência: pode ser fonte verdadeira de desenvolvimento sustentável e de valorização da agricultura familiar.
SEM CERRADO, SEM ÁGUA, SEM VIDA
Por isso, a CONTAG vem afirmando a importância das discussões da temática ambiental, com foco na legislação e execução de políticas públicas voltadas para a preservação e conservação dos recursos naturais.
Uma dessas ações abraçadas pela CONTAG desde 2016 é a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que tem como tema “Cerrado, Berço das Águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida”. Uma Campanha que tem denunciado a pressão do agronegócio sobre o Cerrado, com seu permanente ataque as comunidades tradicionais, povos indígenas, espécies animais e vegetais, e pondo em risco gravíssimo a nascentes ou leitos de rios de oito bacias hidrográficas dentre as doze que existem no Brasil.
Foto: Comitê da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado
Como desdobramento da Campanha, recentemente a CONTAG juntamente com as mais de 35 organizações que compõem o Comitê da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, articularam uma audiência pública para debater os desdobramentos da PEC 504/2010, que reconhece os Biomas da Caatinga e do Cerrado como Patrimônio Nacional. “É muito importante que a Lei seja efetivada, pois as grandes empresas estão acabando com a água, as florestas, os animais e os seres humanos que vivem no Cerrado, na Caatinga e na Amazônia. Levamos essa campanha no braço, para que a Lei seja aprovada, pois defendemos os biomas que existe o babaçu e quebradeiras de coco. Preservamos o lugar de onde nós temos tirado ao longo dos anos o nosso sustento e garantido a vida”, afirmou durante a audiência a coordenadora do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu, Maria do Socorro Teixeira.
Maria do Socorro aproveitou para anunciar que já foram recuperados mais de 25 milhões de hectares de áreas dos babaçuais, por 300 mil quebradeiras de coco que vivem nos estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins.
Foto: Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu
Quem também espera que a Lei seja aprovada é o assentado da Reforma Agrária, Esperidião Gomes de Castro Neto, que vive no PA Baixa da Quixaba, em São Bento do Norte, no Rio Grande do Norte. “Espero que a Lei seja aprovada e executada! Qualquer coisa que nos dê esperança só vem a somar com nossa luta diária por água. Por aqui já são seis anos sem chuva, não temos produzido nada. Quando adquiri a terra tinha 1.300 pés de caju... Morreram todos”, compartilhou Esperidião.
Foto: Dom Hélder Câmara
Porém, na voz do agricultor familiar nordestino é enaltecida uma outra bandeira de luta defendida pela CONTAG, movimentos sociais e abraçada por quem vive no meio rural: a certeza de que apesar das barreiras enfrentadas, quer seja contra o avanço agronegócio, quer seja pelas intempéries naturais, NINGUÉM QUER SAIR DO CAMPO. “Deus me livre de sair da minha terra. Aqui no Nordeste a gente é arrochado. Ninguém corre, ninguém desisti. A gente enfrenta”, afirmou o agricultor que traz na fala firme, a certeza da esperança de que dias melhores virão.
POR UMA AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL
Nos estados da Amazônia Legal, os estabelecimentos da agricultura familiar ocupam apenas 22% da área rural, mas representam 87% do número de imóveis rurais e 82% da mão de obra ocupada no campo, segundo dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Esse território amplia-se quando olhamos para toda a região Amazônica, onde está a maior floresta tropical do mundo, abrangendo áreas da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Infelizmente, ao longo das últimas décadas, essa riqueza vem perdendo a sua força por conta do desmatamento e da sua destruição causada pela utilização inadequada do solo e da água. Os maiores prejuízos podem ser sentidos na diminuição da diversidade biológica e da exclusão dos povos e comunidades tradicionais do acesso aos territórios e bens comuns.
Esse processo vem se agravando também por decisões do Congresso Nacional, que aprovam leis que só atendem aos interesses do capital, incentivando o desmatamento e a destruição da biodiversidade. Um dos exemplos mais recentes foi a aprovação, agora em maio de 2017, de medida provisória que reduz consideravelmente a área de unidades de conservação. A redução mais drástica será da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, que pode gerar, até o ano de 2030, um desmatamento florestal de 280 mil hectares, e uma emissão de 140 milhões de toneladas de CO2, principal gás do efeito estufa.
No entanto, existem experiências interessantes na região, que comprovam que é possível sim produzir alimentos de forma sustentável, preservando o meio ambiente e sua biodiversidade, além de gerar desenvolvimento para o território e renda para a sua população. Um deles é o Projeto Assentamento Sustentáveis, criado em 2012 com o apoio do Fundo Amazônia e da Fundação Viver Produzir e Preservar, com a missão de propor e implementar um modelo que contribua para o aumento da renda de produtores familiares e para a redução do desmatamento nos lotes de reforma agrária.
Segundo o IPAM, a região Amazônica conta com 3.589 assentamentos de reforma agrária. Em cinco anos de atuação do projeto, foram atendidos três assentamentos no oeste do Pará e no antigo polo do Proambiente, na Transamazônica, em uma área de aproximadamente 1,4 milhão de hectares. Os principais resultados obtidos são a emissão de 1.300 Cadastros Ambientais Rurais (CARs); a elaboração de dois Programas de Regularização Ambiental (PRAs); a regularização ambiental de 100% das atividades produtivas; e o georreferenciamento do perímetro de três assentamentos.
O representante do STTR de Pacajá/PA, Valber Monteiro, avalia positivamente a execução do projeto e os benefícios para os(as) agricultores(as) familiares e para o meio ambiente. “Confio no projeto, porque eu acredito que o produtor precise de assistência técnica, de apoio para que ele possa desenvolver seu trabalho na agricultura e, com esse projeto, os produtores irão se firmar em suas propriedades, irão ter mais conhecimento de desenvolver seu trabalho sem agredir o meio ambiente”, relata.
Foto: IPAM
Essa e outras experiências serão apresentadas no Fórum Internacional sobre a Amazônia, que será realizado de 6 a 9 de junho de 2017, na Universidade de Brasília (UnB). A organização é do Núcleo de Estudos Amazônicos, do Centro de Estudos Multidisciplinares da UnB, que pretende reunir cerca de 300 participantes, entre professores(as), pesquisadores(as), representantes de entidades, movimentos sociais e instituições dos países da Amazônia continental, ligadas a atividades de ensino, pesquisa e extensão. A CONTAG participará desse importante evento e estará presente no Painel “Modelos de Desenvolvimento: alternativas para a Amazônia”, no dia 9 de junho.
Um dos objetivos é a promoção de intercâmbio para debater e refletir sobre o processo histórico e o quadro atual da região Amazônica, traçando cenários e apontando linhas de pesquisa, políticas e ações de interesses de seus povos, populações e comunidades tradicionais, ou seja, construindo conhecimento científico e valorizando saberes.
Viva a Amazônia, viva todos os biomas e a biodiversidade brasileira!
Foto: IPAM
FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Lívia Barreto, Barack Fernandes e Verônica Tozzi
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