Ao concluir a leitura do 
voto em que recomendou a cassação da chapa Dilma-Temer, o relator Herman
 Benjamin soou fúnebre. Suas frases tiveram o peso de uma de lápide. Foi
 como se o ministro desejasse espargir a atmosfera malcheirosa do 
plenário do Tribunal Superior Eleitoral, borrifando no noticiário o 
cheiro de enxofre. “Eu, como juiz, recuso o papel de coveiro de prova 
viva”, disse Benjamin. “Posso até participar do velório. Mas não carrego
 o caixão.”
A maioria dos ministros do TSE decidiu 
mandar à sepultura as provas testemunhais e documentais referentes à 
Odebrecht e ao casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura. 
Benjamin, entretanto, fez questão de manter em seu voto todo o pulsante 
conjunto probatório. Com isso, escancarou o que já estava na cara: a 
política brasileira tem código de barras.
O TSE esbarra no óbvio há tempos. Nos 
útlimos dois anos, o óbvio agigantou-se. E parte do tribunal resolveu 
passar adiante, fingindo não enxergar o óbvio. Pior: decidiu enterrar o 
óbvio. O número mais constrangedor do momento histórico vivido pela 
Justiça Eleitoral é este julgamento que não pode ser feito porque as 
provas foram eliminadas do espetáculo. Tribunal que mata provas comprova
 ter certa vocação para a morte. Para salvar Michel Temer, o TSE 
suicida-se. O relator forneceu a inscrição para a lápide: “Aqui jaz um 
coveiro de provas vivas.”
Fonte: Josias de Souza
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